segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sobre mulheres

Garance Doré
Perguntaram-me se eu achava as mulheres francesas bonitas.

A resposta é difícil, não só porque há mulheres lindíssimas no Brasil, mas também pelo fato de beleza feminina ser, assim como futebol, tão-somente uma questão de opinião. Além disso, deve haver tantos tipos de mulheres maravilhosas na França que seria bem complicado definir o que exatamente significa uma "mulher francesa bonita".

Polêmicas à parte, respondi que sim à pergunta. Afinal, vi nas ruas de Paris algumas mulheres que realmente me encantaram. Em parte, porque correspondiam a um estereótipo da mulher francesa que eu mesmo havia adotado como meu estereótipo: corpo delicadamente esguio, roupas sobriamente elegantes e um jeito de andar que me lembra as modelos em passarela. Mas não era apenas isso. Para além do meu próprio estereótipo, percebi claramente um certo charme, um encanto diferente e bem peculiar, que a mera descrição do meu padrão de belle femme não era suficiente para explicar.

A minha mulher francesa ideal (lembrem-se que isto é apenas uma opinião) tem um não-sei-quê de charme que vai além do tipo físico e das vestimentas. É o charme que só vejo nas expressões de tédio. Sim, tédio. Mas não o tédio de aborrecimento, aquele que sempre vem acompanhado de cara feia, como quando se espera alguém que não chega na hora marcada. Na verdade, é como se fosse uma embriaguez, um entorpecimento. Um tédio que madames e mademoiselles desenvolveriam como um charme depois de respirarem excessivamente a atmosfera dos cenários entontecedores das ruas de Paris.

Lembro-me de uma jovem no Jardim de Luxembourg que olhava para o vazio enquanto fazia pose de manequim. O fato de ela ter belas coxas à mostra era apenas um detalhe (em São Paulo isso seria vulgar, mas aqui é um delicioso costume de verão, adoro!): eu nunca havia visto uma cara de tédio tão deslumbrante como aquela... Não costumo gostar de gente esnobe, mas no caso dela o ar de altivez tornava-a ainda mais sensual. Como uma ninfa cansada de sua própria condição de divindade, ela parecia meio enfastiada por conta da certeza de que poderia ter aos seus pés tantos homens quantos desejasse. Estranhamente (para mim), seu semblante fazia transparecer uma espécie de torpor de indiferença, de tédio, enfim, de charme.

Andei pesquisando alguns blogs de moda (sim, fiz isso!) para tentar entender melhor, digo, mais objetivamente, esse charme tão misterioso de algumas femmes françaises que vejo por aqui. Pois imagino que, talvez, os acessórios que elas usam no vestuário ajudam na construção dessa imagem - a cara de tédio - que tanto me impressiona. E, meio que por acaso, acabei descobrindo um vídeo-propaganda dos lenços de seda "carré" - "quadrado" em francês - fabricado pela casa de moda parisiense Hermès.

Pelo que li, esses lenços caríssimos da Hermès são o sonho de consumo das "mulheres francesas" (seja lá o que for isso). A despeito do fato de ser uma propaganda, o vídeo que mostra a loirinha da foto abaixo usando seu carré traduz muitíssimo bem em imagens e sons essa minha experiência pessoal de ficar étonné, frappé, saisi [são palavras que expressam espanto, comoção, admiração, surpresa...] sempre que encontro um de meus estereótipos andando em carne e osso (e belas roupas também) pelas ruas de Paris.

http://www.youtube.com/watch?v=w6wUfyo2AfU

PS: A imagem que aparece lá em cima no post foi extraída de: http://www.garancedore.fr/en/2009/01/09/la-femme-francaise/

3 comentários:

  1. Olá Thomaz!É por escritas e olhares "masculinos", tão "femininos" rs quanto os seu, que me pego sempre batendo contra tais etiquetas. Adorei seu texto e seu sensível olhar para as "femmes françaises", para as femmes, enfim! Pra dizer que passei por aqui e que a Lígia tinha razão sobre a sua perspicácia ;)lettícia.

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  2. Olá Lettícia. Que encantadoras palavras! E também, que leitura perspicaz! Pois você acertou em cheio minha "pegada" no blog: escrevo sobre aquilo que sinto por meio do olhar. No fundo, Paris é apenas um cenário para esses meus relatos, que nascem a partir do que vejo, ou melhor, do que sinto quando vejo. E os objetos de minha visão (como, no caso, as femmes françaises) são, na verdade, pretextos para entrar em contato com outras pessoas que, enquanto leitores, queiram compartilhar os sentimentos associados a visões semelhantes. Sentimentos estes que, imagino, não são tão particulares quanto podem parecer à primeira vista.
    Um abraço.

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  3. Vou continuar acompanhando seus olhares e dividindo também os meus, que de fato, talvez não sejam tão diferentes! A Gente se vê por aqui e pela Maison! le.

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