sábado, 28 de agosto de 2010

Fragmentos de Amsterdam (3)

Red Light District

Conheci o Red Light District, que é a região de Amsterdam onde se encontram os sex-shops, as casas de show noturnas e os prostíbulos. Mas a maior atração eram as prostitutas das vitrines. Lindíssimas, algumas pareciam modelos ou atrizes de filme pornô de primeira. Eram completamente diferentes das barangas que andam pelas ruas dos puteiros no centro de São Paulo ou próximas ao portão principal da USP.

No Red Light District não era permitido tirar fotos. Por isso, limitei-me a perguntar para uma delas quanto era: "how much?". Pela pequena abertura na porta de vidro, a moça me disse muito atenciosamente: 50 euros, 20 minutos. Valor e tempo tabelados. Tudo legalizado, tudo muito profissional. Descobri uns vídeos no YouTube com gente que teve a idéia de filmar escondido. Por exemplo, este aqui (link).

Pigalle, em Paris
O ambiente era diferente também de Pigalle, onde acontece a vida noturna em Paris: as prostitutas parisienses ficavam escondidas (pelo menos antes da meia-noite), e eram os seguranças que me convidavam para entrar nos lugares: "Speak english? Information?". As prostitutas de Amsterdam mostravam-se de corpo inteiro pelos vidros das fachadas das casas e eram elas mesmas que convidavam seus clientes. Mostrar tudo ou esconder tudo? Estratégias diferentes de trabalho...

Estranhei o fato de aquele ser um lugar de passeio das familias: havia crianças passando em frente às vitrines. Outros costumes, outra moral. Mas gostei, porque fiquei com a impressão de que uma liberalidade assim deve ser um bom remédio contra a hipocrisia, sobretudo aquela que vem da moral religiosa.

Achei interessantíssima a maneira como a imagem das prostitutas era construída em Amsterdam: como manequins vivas em vitrines de um shopping do sexo. A luz vermelha sobre seus corpos (daí o nome do lugar) certamente ajudava a produzir um efeito incrível. No fundo, eram obras do artifício humano. Afinal, como diriam os antropólogos, as prostitutas são fabricadas, elas não nascem assim, são uma construção social. E, de fato, as lindas garotas do Red Light não eram meros objetos sexuais: eram verdadeiras obras de arte e poderiam muito bem estar expostas no museu do sexo (que aliás, existe em Amsterdam).

Van Gogh

Visitei o Museu Van Gogh e achei muito emocionante ver bem de perto os girassóis, os auto-retratos e outras obras. Já havia ouvido sobre as "pinceladas fortes" de Van Gogh, mas não tinha idéia de como eram. Só então percebi nas telas um relevo de tintas tão notável que fazia as imagens parecerem esculturas: como se o pintor esculpisse cores em vez de pedras. Fiquei maravilhado: escultura em matéria abstrata!

Não era permitido tirar fotos, mesmo sem flash. Mas entendi que essa regra valia apenas para os civilizados...



O que senti ali foi indescritível. E vejam que não entendo quase nada de artes! Mas é que não era tanto pelo Van Gogh em si. O que me emocionava mesmo era ver "ao vivo" algo que, anteriormente, eu só conhecia através de imagens captadas por olhos dos outros. Pareciam telas estranhas, apesar de serem as mesmas que eu possuía guardadas em minha memória.

Exatamente como quando vi a torre Eiffel... (para ver o post, clique aqui)

Agora sei que nenhuma foto dos girassóis ou dos campos de trigo conseguiria me fazer sentir o que eu senti ali. Porque não haveria como reproduzir em duas dimensões o efeito da luz sobre as cores projetadas para fora do plano vertical do quadro. Só mesmo ao vivo e chegando bem perto para ver.



Dava vontade de passar a mão sobre as imagens... Curiosamente, era a mesma sensação que tive diante das prostitutas do Red Light District. E, não por acaso, de um ponto de vista "estrutural", os elementos eram análogos e se relacionavam da mesma maneira em ambos os casos: entre o observador e a obra de arte, havia o vidro, obstáculo transparente que impede o observador de tocar o objeto desejado mas não de contemplá-lo, e a luz, responsável pelo efeito de realce das formas. Vale notar que, nos dois lugares, as fotos eram proibidas, o que tornava o desejo de observar o objeto ainda mais intenso!

Se bem que, no Red Light, era só uma questão de sacar 50 euros para realizar a mágica de atravessar o vidro... Sem Deus, tudo é permitido, diria Ivan. Mas às vezes um pouco de dinheiro ajuda, né?

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