domingo, 12 de setembro de 2010

Dois meses

Hoje, dia 12, faz dois meses que cheguei a Paris. E agora, ao lembrar-me das primeiríssimas impressões que tive ao ver a cidade, acho interessante a frase que escrevi: "tudo muito grandioso, tudo luxuoso, tudo assustador..."

Já falei algo sobre as coisas grandiosas e luxosas. Mas sobre as assustadoras não.

Tudo em Paris é "assustador". Queria entender por que eu disse isso, pois a palavra é muito significativa. Tenho falado sobre meus medos no blog: o post sobre o sentimento de estrangeiro e o das descontinuidades mostram isso claramente.

Não é medo do monstro escondido embaixo da cama, nem medo de ser pego pela mãe fazendo coisas erradas. Não é medo de ladrão, nem de fantasma. Não é medo de viajar, não é medo de ficar doente. Tampouco é medo de morrer.

Medo de quê, afinal? Não sei. Só sei que o medo está presente na minha cabeça. Porque, se não estivesse, ele não apareceria tanto. Ah, como sinto falta de meu analista! Mas ele me disse, antes da viagem, que a análise viria comigo. E levei isso a sério. Tanto assim, que pensei no seguinte diálogo fictício entre nós:

Analista: Em Paris, o que assusta você?

Eu: Tudo.

Analista: Mas o que é "tudo"?

Eu: Não sei... Tudo é... tudo!

Analista: Como assim? Dê um exemplo de algo que assusta você.

Eu: Hummmm... Bem, acho que... a luz.

Analista: A luz?

Eu: Sim, a luz. Estou na chamada "Cidade Luz". A luz está por todo lugar e me faz ver que não estou no Brasil. Havendo luz, vejo que tudo ao meu redor é estranho. É a luz que faz com que eu olhe para mim mesmo e me veja como um estrangeiro. Acho que é a luz que me assusta.

Analista: E você gostaria de não ver nada? Gostaria de ficar sem luz?

Eu: Talvez eu sentisse menos medo na escuridão.

Analista: E quanto à escuridão? Se você estivesse sem luz, a escuridão também estaria em todo lugar. A escuridão não assusta você?

Eu: Não. Na escuridão eu não teria medo. Poderia até imaginar que estivesse em outro lugar, um lugar conhecido onde eu me sentisse seguro. Poderia fechar os olhos e me imaginar no Brasil. Mas em Paris, na Cidade Luz, a luz não permite isso. Olho para todas as direções e sinto o medo, mesmo que seja latente, medo potencial, sabe? Tenho vontade de fechar os olhos...

Analista: Fechar os olhos faz você sentir menos medo?

Eu: Puxa vida, não tinha pensado nisso! E veja que eu até já havia escrito algo a respeito de fechar os olhos*... E fechando os olhos eu poderia também descansar os olhos cansados**, etc.

* * *

Bem, claro que deixei o diálogo mais interessante do que costumavam ser minhas conversas com o Mauro, meu analista. Mas esse foi um diálogo que escrevi como se estivesse numa sessão de análise. De fato, Mauro estava certo: a análise veio comigo. Se bem que um pouco mais fantasiosa...

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