sábado, 4 de dezembro de 2010

Bela e triste


Nem o céu cinzento e a neve no chão, nem a falta de sol e o frio em meu rosto, nem mesmo o mau humor e o mau odor dos franceses (e pensar que reclamávamos deles no verão!) conseguem deixar Paris menos bela.

Mas não é a beleza das imagens que eu via nos cartões postais. Ao vivo, Paris no fim de outono é diferente. Bela, sim, mas triste. Como aquela beleza do Madrigal Melancólico de Manuel Bandeira:

A beleza, é em nós que ela existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza

Novamente, a questão que me incomoda: se eu fechasse os olhos, Paris continuaria bela? *

Ora, quero crer que sim. Afinal, bom seria se sua beleza não fosse tão frágil e tão incerta a esse ponto, diante de um simples olhar. Poderia dizer sem vê-la: continuas bela! Ou talvez precisasse mentir... De todo modo, a despeito do que eu visse ou deixasse de ver, se Paris for bela, também será triste.

Porque o poeta disse que a beleza é triste. Se não fosse triste, não seria beleza. Que tristeza... Mas, enfim, é a vida! E a vida, ela é assim. Por isso é vida. Por isso é bela...

Explicava para meus amigos que escrevo sempre que estou triste. Mas faltou dizer que não é só por causa da tristeza. Não escrevo para ficar mais triste. Na verdade, escrevo porque gosto das coisas belas, ainda que, justamente por serem belas, elas me entristeçam tanto.

Só acho difícil quando a beleza é muita. Porque nessas horas, fico sem saber o que dizer. Emudeço, por causa da beleza, por causa da tristeza, sei lá por quê. Paris no frio, com esse cenário meio glacial (e surreal), é emudecedora, pelo menos, para mim.

E aí vem aquele sentimento de que tudo o que eu poderia dizer já foi dito, de que agora tudo que eu disser será repetição, como ecos de discursos de outros tempos e lugares. Como se só o que restasse fossem repertórios de palavras usadas, que nunca mais serão pronunciadas com a magia da primeira vez.

Ou ainda, como se, diante da beleza e da tristeza de Paris, não houvesse mais nada a dizer depois do que eu já disse, mesmo que eu quisesse falar - poética e magicamente, pensando aqui e estrangeiramente - do céu cinzento, da neve no chão, do frio de vento que sinto no rosto e também no coração.

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