terça-feira, 20 de julho de 2010

Os primeiros dias

Cheguei em Paris no dia 12/07/2010. Escrevi diversos e-mails para dizer que estava bem e contando um pouco de minhas primeiras impressões. O que segue é a versão que enviei para meu irmão, no dia 14.

“Olá Hiro,

A viagem foi tranqüila, não tive problemas com meu ouvido, mas não consegui dormir e, por isso, cheguei cansadíssimo.

Estou encantado com Paris. E também com o pessoal da Maison du Brésil. Além de ter encontrado conhecidos da USP, fiz alguns amigos novos: tem um "japa" que faz doutorado em computação e que me ajudou a conectar o notebook na Internet, tem um arquiteto de Natal muito simpático e divertido, um filósofo de Porto Alegre zen-budista, uma menina das letras de Araraquara que é um amor de pessoa.

O ambiente é muito legal, é tudo muito bonito para meus padrões fefelechianos, e também espaçoso: acho meu quarto extremamente confortável - o colchão é bom, tenho mesa de trabalho, e até frigobar! Tenho muito espaço para guardar as roupas, tem cabide (eu não precisava ter trazido), e a ducha é muito gostosa. Só o vaso é fora do apartamento, mas isso não tem problema para mim. De qualquer maneira, não dá para comparar com o Crusp.

Não consegui dormir logo que cheguei, apesar do cansaço: tentei deitar à tarde, mas estava agitado por causa da viagem. Ainda estou meio confuso por causa do fuso horário. Só escureceu depois das 22h. É tudo muito estranho...

Mas mais estranho foi na conexão, na Itália: eu chegava para as pessoas e pedia informação, mas elas não me entendiam bem e eu não entendia nada do que elas falavam. Tentei inglês, porque era a língua dentro do aeroporto e do avião, mas o inglês dos italianos é terrível, macarrônico. Tudo porque me perdi: tentei acompanhar o fluxo das pessoas, mas eram muitas e acabei indo parar em outra ala do aeroporto. Ali fiquei muito assustado, quase desesperado, porque só consegui passar na alfândega quando já era hora de embarcar - e foi quando o oficial encrencou comigo, pediu para eu mostrar o bilhete de volta (que eu não comprei). Felizmente eu tinha a carta-convite do orientador daqui, e o oficial aceitou. A família de árabes que estava na minha frente não teve a mesma sorte: o oficial não os deixou passar por problema na documentação.

Senti muito medo em Roma porque eu estava sozinho e as pessoas eram todas estranhas. Foi um alívio ver Cecília me esperando no aeroporto em Paris... A coitada, além de perder o dia para me receber, teve que esperar muito no aeroporto porque meu vôo acabou atrasando. Ainda bem que estou com brasileiros. Eles são bastante acolhedores. Já me disseram que é difícil fazer amizade com franceses.

Ontem (terça-feira) acordei depois das 10h. Após muitos dias de insônia causados pela tensão pré-viagem, hoje consegui dormir bem, finalmente. Mas ainda estou meio zonzo.

Almocei no bandejão da Cité com minha guia, a Cecília. Tinha cuzcuz marroquino. Uma delícia. O bandejão daqui é muito chique e tem almoço e janta. Mas a comida é pesada, como na USP, e não dá para comer duas vezes no mesmo dia. Em compensação, é a opção mais barata de refeição: 2,90 euros.

Hoje também fiz minhas primeiras compras. Estava sem nada, nem água (aqui, tudo custa dinheiro), e o jantar do dia que cheguei foi por conta dos amigos, que se reuniram para me receber. Fui num supermercado chamado G20, que parece um Pão de Açúcar. Comprei torrada, queijo camembert, água, suco de frutas, maçã, pera, iogurte e tabule. Deu pouco mais de 11 euros. Agora tenho comida para os próximos dias. Não dá para estocar muito, pois falta espaço no frigobar.

Também tirei meu passe de trem/metrô/ônibus: o Navigo. Agora posso usar o sistema de transportes daqui sem gastar tanto. Tive meu primeiro contato de verdade com a língua francesa: não entendi várias coisas que a mulher que fez meu Navigo dizia, mas Cecília me ajudou. Confesso que, nessas horas, dá vontade de desistir de tudo e voltar para o Brasil. Mas essa é uma vontade que passa rápido, pois tudo aqui me impressiona.

Só não conseguimos abrir a conta no banco, pois estava fechado. Acho que é devido às festividades de 14 de julho, feriado nacional em comemoração à queda da Bastilha. Eu, como estudioso do XVIII, deveria entender melhor isso, mas ainda estou com ares de turista e fico perdido em meio a tanta informação... Puxa vida, como tem turista aqui, todos com mapa na mão!

Arranjei vários guias de Paris. Vou estudá-los um pouco para ir memorizando os lugares.

Hoje já corri pelos jardins da Cité Universitaire, é tudo muito arborizado, muito lindo. Há outras pessoas que correm, e, pela primeira vez desde ontem, me senti mais à vontade. Acho que quando eu começar a freqüentar as bibliotecas, vou me sentir melhor também. No momento, estou apenas resolvendo questões emergenciais e burocráticas.

Bom, por enquanto é isso. Depois contarei mais de minhas aventuras em Paris. Na verdade, ainda não acredito que estou aqui. É realmente uma experiência muito forte, impressionante mesmo, parece cenário de filme, tudo muito grandioso, tudo luxuoso, tudo assustador...

Abraços,
Thomaz”

2 comentários:

  1. Meu querido irmão. Esta mensagem nunca chegou à minha caixa de e-mails, mas ainda assim fico emocionado com teu relato. Desejo que você aproveite muito este período. Você, de antemão, já matou uma charada: os olhos dos estrangeiros percebem coisas diferentes. Então curta bastante este período de estranhamento que só os viajantes conseguem viver. Lembro bem da época em que você saiu de casa para fazer o estágio de fim de curso em São Paulo. Foi um período muito legal! Espero que você ainda lembre do quanto você evoluiu naquela época. Entendo que agora você está dando outro salto, similar ou ainda maior do que o ocorrido naquela ocasião. Um grande abraço e boa sorte. H.

    ResponderExcluir
  2. Tinha certeza que havia mandado. Era a versão mais "lapidada", que eu havia preparado justamente para você, mas que deve ter ficado apenas no diário. Bom, pelo menos você recebeu via blog! Um abraço.

    ResponderExcluir