terça-feira, 20 de julho de 2010

Cenários e encenações

Aqui em Paris tudo é grandioso, luxuoso e, talvez por isso mesmo, assustador. Experimentei o choque cultural de ver pessoas que pareciam brasileiros, mas que quando falavam diziam coisas que eu não conseguia entender. Ainda acho estranho chegar para alguém e ter que dizer: "Bonjour, Madame!", "Bonjour, Monsieur!", "Pardon!", "Excusez-moi!" etc. Parece tudo uma encenação, uma brincadeira, um teatrinho de aula de francês ou coisa do tipo, e não uma situação real de vida.

É muito estranho ver-me num supermercado parecido com um Pão de Açúcar e ter que falar com a moça do caixa como falaria com uma professora estrangeira: "Bonjour, Madame!". E, ainda por cima, ter que pagar com aquele dinheiro que mais parece brinquedo, notas de banco imobiliário. Acho que aqui esse estranhamento todo me fez sentir mais brasileiro. Sim, sou mais brasileiro do que imaginava! Ou mais caipira... De todo modo, não me sinto à vontade com esse formalismo europeu, por mais que eu tente entender que é apenas uma questão de educação.

No sábado, ao andar próximo ao Louvre, vi mulheres lindíssimas, que mais pareciam modelos desfilando com suas belíssimas roupas, como se as próprias ruas de Paris fossem passarelas de moda. Vi os livreiros com suas bancas nas calçadas, vendendo textos clássicos como se fossem frutas ou verduras numa feira. Vi mascates vendendo quinquilharias (ou melhor, souvenirs), mendigos falando inglês e italiano, turistas falando inglês e italiano, e também vi muitos brasileiros. Vi os cafés, que tornam as esquinas tão charmosas, e neles, gente sentada nas mesinhas olhando em direção à rua com cara de estátua... E, de repente, vi a mim mesmo, ali, quase sem acreditar, inserido nesse lugar, que me fazia sentir numa cena de filme francês...

No domingo saímos em grupo para visitar o Jardim de Luxembourg, onde atualmente fica o Senado francês. É um lugar lindíssimo, imenso e, como tudo aqui em Paris, belíssimo. Houve um concerto de piano ao ar livre. Ouvia-se Chopin ali. É muito engraçado ver um montão de pessoas, todas em silêncio, assistindo a uma peça de piano sentadas sob as árvores ouvindo o pianista tocar. Parecem civilizados, pelo menos aos olhos de um "sauvage". Vi também um ex-professor, acompanhado de sua esposa, sentado ali com ares de francês, coisa que ele parece se esforçar para ter. O sobrenome é Santos, mas, é claro, aqui deve ser Santô.

Depois, fomos visitar a catedral de Notre Dame. Assisti a uma missa (ugh!). Mas, apesar do clima religioso que não gostei, o lugar é impressionante: estilo gótico, com o teto altíssimo, muito escura e assustadora por dentro, bem no espírito da "idade das trevas". Olhei para os vitrais e lembrei-me de uma amiga que me sugeriu ver os vitrais da Sacre Coeur. Mas os da Notre Dame não eram tão bonitos. De qualquer maneira, agora posso dizer que vi com meus próprios olhos o lugar onde o Rousseau tentou entregar para Deus o manuscrito de um de seus textos... Fomos com a Cristina, uma artista que está na Maison du Brésil acompanhando o marido. Ela deu uma aula sobre o gótico para o grupo e nos explicou os detalhes da arquitetura da Notre Dame. É tudo muito interessante.

Mais tarde, andamos pelos arredores da catedral, vimos o Sena, as lojinhas cheias de torrinhas Eiffel, camisetas com "I love Paris" e turistas experimentando echarpes e chapéus como se estivessem brincando de desfile de moda. Sim, aqui tudo parece uma grande brincadeira, não é real, é como se fosse um sonho. Porque, para mim, os prédios de pedra são menos sólidos que as paredes feitas de barro do Brasil. Fachadas lindas, sobretudo nas esquinas com ângulos agudos, porém, inabitáveis para alguém como eu. Mas não deixo de sonhar um pouco, imaginando-me encostado numa daquelas sacadas com grade, mesmo que apenas por um instante... Ah, essas pedras parisienses evanescentes, tão menos concretas que o barro feito do pó da terra sobre o qual apóio meus "pieds brésiliens"...

Sinto o tempo todo saudades do Brasil, das pessoas que deixei por lá. Às vezes, sinto com mais intensidade, e fico com vontade de voltar. Mas sei que um ano não demora para passar e que, em breve, retornarei. Só é pena que, enquanto isso, eu tenha que disfarçar a tristeza de só poder ter contato com meus amigos por e-mail ou Skype. Pensei muito sobre o quanto essa "troca" valeria a pena. Talvez valha mais do que eu suspeite. De qualquer maneira, fico sempre tentando me convencer de que está tudo bem e que Paris é um lugar para se sentir feliz. Como se diz por aqui, "ça va", e é isso mesmo: tudo bem. Mesmo porque, na minha situação, não há nada mais a se fazer a não ser viver o presente, o que não é tão difícil quando as coisas a serem vividas são tão boas como agora.

Um comentário:

  1. Tudo está bem. As novidades assustam mesmo. Mas, que bom que tudo está bem. Um beijo.

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