sábado, 14 de maio de 2011

Dez meses

[Escrito na quinta-feira, 12 DE MAIO DE 2011]

Adiei este texto, não sei bem por quê. Na quinta-feira, faltavam quarenta e quatro dias para minha volta ao Brasil.

Não queria que fossem mais nem menos dias: quarenta e quatro está bom. Se bem que, às vezes, pego-me com uma vontadezinha de ficar mais tempo. Mas isso passa. É uma questão de tempo, como acontece com meus sentimentos de afeto: mesmo quando são intensos, mais cedo ou mais tarde eles passam. E minha relação com este lugar, esta cidade de sonho chamada Paris, é uma relação baseada em sentimentos de afeto. Os românticos diriam "amor".

Acho que é hora de partir. Porque vejo que Paris já começa a ficar invisível para mim: a cada dia, tenho que buscar novos caminhos para chegar aos mesmos lugares, porque tudo começa a ficar comum e perder o encanto, tudo começa a ficar indiferente. E o que percebo é bem isso: a despeito de minha vontade, parece inevitável que eu vá perdendo, a cada momento, um pouquinho do poder de enxergar o que, num passado não muito distante, havia sido um grande objeto de afeto, ou, como se costuma dizer, um grande amor.

A Paris que amo é a mesma Paris que, em pouco tempo, não verei mais. Assim como o sentido da visão, o amor é algo tão fundamental para a vida concreta e, ao mesmo tempo, tão fugidio, ilusório, enganador... Porque o amor me parece mesmo a fragilidade em essência: algo que posso perder com um simples fechar de olhos. Mas - que contradição! - como amar sem fechar os olhos? Metáforas do amor e de seus paradoxos. Não conseguir não esquecer o que gostaríamos que fosse inesquecível. É como a experiência de despertar de um sonho bom e querer continuar a ver, ao longo do dia, as imagens que a cada minuto se tornam mais fracas e apagadas, que mais cedo ou mais tarde não veremos mais.

Acho que a Paris que amo é isso: um não-lugar, entre a memória e o esquecimento.

Um comentário:

  1. Thomás,
    Curta essa Paris, pois quando voltamos, Paris fica só nas nossas lembranças. E isso ocorre bem rápido!
    Abraços

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