sábado, 11 de junho de 2011

Roma

A viagem a Roma foi uma experiência marcante. Talvez, por ser a última viagem antes de minha volta ao Brasil, ou ainda, pela alegria que encontrei na atmosfera humana daquela cidade.

Mas penso que há outra razão para ter gostado de lá. Uma espécie de "revelação": nunca antes havia ficado tão claro para mim que o trabalho da memória é como o trabalho do artista, que transforma a realidade bruta da pedra em representações do sentimento.

Vi muitas pedras em Roma, ou melhor, muitas ruínas, e todo aquele cenário me parecia uma grande representação do esquecimento. Palco do tempo passado, onde todas as coisas são necessariamente reduzidas ao nada de origem, de acordo com a vontade divina para com o homem: "porquanto és pó, e ao pó tornarás".

Contudo, encontrei em Roma os guardiões da memória: Michelangelo, por exemplo, que lutava contra a rígida ordem do universo com a fina delicadeza de sua Pietà e com a vivacidade apaixonante de seu Moisés. Emocionei-me porque o que vi naquelas obras não era apenas a matéria dura e fria da rocha, mas amor.

Um amor que, mesmo sendo tão bem representado na pedra, não poderia escapar do destino de todas as coisas humanas: arruinar-se, tornar-se ruína. E, no entanto, um amor que, justamente por não ser eterno, valeria o sacrifício de uma vida inteira pelo simples fato de poder existir, ainda que apenas por um único instante antes de voltar a ser pó.

Fiquei impressionado também com a volta de Roma. Porque nos dias que passei lá, experimentei um sentimento de saudade de Paris que só aumentava. Entre os italianos, senti-me como se estivesse no Brasil, com pessoas sorridentes e barulhentas, vestidas de maneiras as mais variadas e coloridas possíveis. No entanto, tendo que falar em inglês - ou português! -, sentia-me estrangeiro e ficava feliz quando ouvia alguém falando francês, mesmo quando eram esnobes, monocromáticos e mal-humorados, mesmo quando eram tipicamente parisienses...

Nunca fiquei tão feliz em estar de volta a essa cidade cinzenta e triste, cheia de gente chata e melancólica. Quando saí da estação do RER em frente à Cité Universitaire, não me sentia apenas "em casa", mas literalmente chez moi. Não quero dizer com isso que eu goste de coisas desagradáveis, mas é que só agora vejo um certo charme nessa ambiance tão única que até há bem pouco tempo tanto desgosto me causava. Chegar em Paris depois da viagem a Roma foi como redescobrir um amor que estivesse esquecido, em ruínas.

Chega a ser engraçado: somente agora, que estou prestes a deixá-la, é que começo a ver certas coisas em Paris. Por exemplo, a possibilidade do amor à maneira de Michelangelo: amor concreto, extraído da pedra antes de tudo virar pó. Mas, como sempre acontece comigo, é tarde demais... E, no final das contas (e no final de tudo), o que Paris me mostra é uma história - mais uma! - de desencontro. Em minhas lembranças, Paris será sempre o lugar dos amores impossíveis. O que não deixa de ter seu charme: enchantement...

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