terça-feira, 12 de julho de 2011

Doze meses (?!)

Acho que ainda não cheguei de viagem. Porque ainda me pego dizendo " no Brasil"... O que veio com as malas no avião junto com as roupas e com a saudade dos amigos que deixei em Paris foram alguns hábitos, como dizer "pardon" e cumprimentar as meninas com dois beijinhos. Além, é claro, da péssima mania de comparar tudo aqui com o que conheci na Europa.

Se tivesse voltado para São Paulo, se houvesse casa em São Paulo, talvez o choque não tivesse sido tão grande. Mas São Carlos, a casa de meu pai, o meu quarto de infância... Era como entrar numa máquina do tempo. Para dizer o mínimo: foi um estranhamento absurdo. Encontrei-me comigo mesmo no passado e não me reconheci. Quem fui eu? As lembranças que vinham à mente com cada objeto não eram mais familiares, muito embora os objetos fossem. Tudo igual, mas tudo diferente... Por um instante, fiquei dividido, senti que a memória que me constituía não era mais minha. De quem era então? Talvez, de um outro eu, estranho.

Meu primeiro dia no Brasil este ano foi frio, muito frio. Curiosa inversão: em São Carlos a grama amanheceu coberta de geada, enquanto em Paris amigos se queixavam do calor de mais de 30 graus! Ora, mesmo sabendo que aqui é inverno, não esperava encontrar temperaturas tão baixas. Era como se o frio europeu tivesse vindo comigo para me confundir, para me pregar uma peça. Pensei: não é só na Europa que a gente sente frio? E ainda: aqui a gente também sente solidão? E tristeza? E vazio? E também se sente estrangeiro? Sim, sim, tudo isso...

Quando deixei Paris, estava com blusa. Sentia frio. Só não foi mais frio porque os amigos tão queridos, "fofos", não deixaram. Mas quem os deixaria era eu, como num sonho que acaba quando a gente acorda. Acontece que, quando despertei na manhã seguinte, já em São Carlos, os sonhos inquietantes continuaram. Ainda o frio?! Sim, porém, com algo de novo: a experiência de rêver o sorriso do pai. E então, descobri que a gente pode sonhar acordado em qualquer lugar,  em Paris ou no Brasil. O que eu trouxe na mala dessa viagem foi mais que saudade de um tempo de sonho: foi a certeza de que esse outro eu, sempre estrangeiro, veio comigo. Talvez, outro fantasma para me atormentar. Mais um... E real, como num sonho. De todo modo, a vida continua, estrangeiramente, mostrando-me o novo de novo e de novo, como sempre...

2 comentários:

  1. Será que você vai ler este comentário?? Estava lendo sobre memória, meu "incapturável" sujeito de pesquisa e lembrei-me do "estrangeira-mente"...quais caminhos minha desassossegada mente andou fazendo??? rsrs Você bem que podia fazer um blog por aí, só pra eu matar saudades de você pela sua sempre bela e delicada escrita, por aqui. Bjos de Paris. lettícia

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  2. Lettícia, que saudade! Tudo bem com você?

    Olha só o que o esquecimento faz comigo: estou em falta com os amigos de Paris... E, no nosso caso, estou mais endividado ainda, porque nem nos despedimos quando parti de volta para o Novo Mundo! Espero que me perdoe ;)

    O blog parou, e tinha mesmo que parar. Afinal, a inspiração para os textos era a tristeza que eu sentia em Paris. Mas agora, acho que chega, né? Vamos "viver a vida", para lembrar um certo diretor francês... O blog, assim como o estágio de doutorado, foi apenas uma fase, que passou. Passou o tempo, mas ficaram os amigos.

    Como você! Um super-beijo!!!!

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