terça-feira, 15 de março de 2011

Oito meses e três dias

Não. Não foi falta de disciplina. Dia 12 devia ser sagrado. Ele marca o tempo que passo em Paris. Eu até cumpri o rito do mês, escrevi umas besteiras, mas não quis publicar. Porque senti que o próprio passar do tempo havia se tornado indiferente e, portanto, perdido o sentido. É como na tela do Goya, "Saturno devorando seu filho", que vi no Museu do Prado.

Resolvi escrever agora, três dias depois. Mas poderia escrever após quatro, cinco, ou poderia escrever no dia 12 mesmo. Que diferença faria? O tempo continuaria passando, a despeito de mim. No final, Saturno devora tudo, até mesmo os sentimentos, como o amor ou a tristeza, que com o passar do tempo perdem o sentido, perdem-se na indiferença...

Perdas... O sentimento neste momento é justamente de perda: sinto que alguma coisa se perdeu. De novo, "quelque chose d'absent qui me tourmente". Mas tenho a impressão de que isso também vai passar: porque, por mais absurdo que pareça, todos sabem que é apenas uma questão de tempo.

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